POESIA: 'Fortaleza', de Mario Henrique do Amparo Pereira

by - julho 13, 2023

 

Imagem enviada pelo autor

Fortaleza

É cada vez mais difícil
encontrar as memórias dos nossos momentos
neste abismo,
chamado por muitos de Tempo,
que me esquarteja em três:
quem já fui,
quem sou
e quem seria
se você estivesse aqui.

É cada vez mais difícil,
mas nunca desistirei de tentar.
Prometo sempre me esforçar
para não te esquecer.

Não quero esquecer
de quando juntos andávamos
simplesmente por andar,
simplesmente por sermos nós andando.

Nem de quando faltava luz
e cantávamos a mesma música,
no mesmo lugar,
todas as vezes...

De quando você me fotografava
simplesmente por eu existir,
simplesmente por estar parado
no ponto de ônibus.

De quando você não me dizia nada
e eu entendia tudo;
e era por você entendido,
também sem dizer uma palavra.

De quando brincamos com o vento,
num dia qualquer,
e achamos graça de algo tão simples,
simplesmente por ventar.

De quando rimos longamente
depois de uma situação que sequer foi engraçada,
para quem quisesse ver, na rua,
a escandalosa alegria que tínhamos.

De quando te presenteei com um simples cartão,
num dia dos pais,
por você ser muito mais do que uma mãe;
você era tudo.

De quando pela primeira vez eu chorei
por quem não fez por merecer o meu pranto,
e você estava lá, ao meu lado,
como sempre fazia questão de estar.

De quando nos reencontramos,
depois de um dia inteiro de angústia e espera,
e nos abraçamos como se uma eternidade
tivesse nos separado.

De quando te perdi,
já cansei de me lembrar;
não, disso já lembrei demais.

Quero me lembrar
de quando encontrei,
anos mais tarde,
tudo o que você me escreveu
como se soubesse que um dia
não estaria aqui para me dizer.

De quando consegui pensar em ti
sem a tristeza que contaminava as minhas recordações;
no lugar dela, está o carinho
que você tanto merece.

De quando sonhei com o teu sonho
finalmente sendo realizado
e finalmente te vi plena
e feliz.

De quando realizei o meu sonho
e percebi que há marcas
que a passagem dos anos não apaga;
muito menos aquelas que você deixou.

Às vezes,
é como se novamente eu estivesse
num dia de angústia e espera
que nunca termina.
Mas então, me lembro do nosso abraço,
que em nada antecipava o que aconteceria depois.
Em algum lugar,
sei que aquele abraço não acabou;
sei que ainda estamos lá, juntos.
E sei que sempre estaremos.


Mario Henrique do Amparo Pereira
15/06/2023

Você pode gostar também

0 comentários