Análise de 'Não posso adiar o amor', de Antônio Ramos Rosa

by - março 24, 2021

 

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"Não posso adiar o amor", Antônio Ramos Rosa


Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.



   Destaca-se no texto de Antônio Ramos Rosa a ideia de aprisionamento, evidente na construção do poema. O eu lírico apresenta-se lutando todo o tempo para viver o momento que lhe fora usurpado. A urgência de viver o presente se impõe e, com isso, nota-se na voz poética uma resistência aos obstáculos encontrados. Percebe-se no eu lírico, uma imensa disposição de lutar para não ter sua voz silenciada.

    Como em toda leitura, existem variadas interpretações. Em uma delas, o poeta não se vê capaz de adiar seus sentimentos e precisa expressar, no agora, o que ele vive e sente. Percebe-se uma voz poética que está sendo censurada pela repressão fascista, mas não quer ser silenciada. Nada poderá impedi-la de soltar seu grito diante do momento que está sendo vivido. O poema é um compromisso amoroso com a liberdade, nada poderá adiar o coração: o medo de possíveis torturas, do exílio, dentre outras opressões. O poeta  não  pode adiar para amanhã seu grito de libertação e luta. O poema canta o amor verdadeiro, a liberdade incondicional, vocação inegociável do ser humano.


                                               Rafaela Falcão

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