POESIA: 'Petrifico', de Beatriz Firmino

by - agosto 08, 2023

 

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Petrifico

Tenho me estranhado, me olho fundo nos espelhos, percebo tudo mas não faço nada,
sigo automaticamente transitando nas relações. Desta vez não entendi porque até mesmo
de minha escrita me desvencilhei, se é ela quem sempre finca minhas raízes.

De pérolas eu digo que gosto
Aí eu cresci, penso no mísero material
A recusa da assimilação, que se danem as pérolas

Os barquinhos de papel deixando nos olhos dos que ficaram
o mar
nas espumas transcendem as mágoas
limpa o que há de limpar
traz de volta para a margem
não me deixo, não me passo, me transformo no gosto do meu caminhar

Assim me calo, minha boca e garganta se petrificam
Não adianta achar que as coisas voltarão destrinchadas um dia
O fantástico se dá pela não certeza das coisas
Não, nunca vou saber o que o professor de latim pensa quando me olha
Olhares difusos que confundem
Devo eu falar de tudo? Saber de tudo?

Num esconderijo me abrigo, é o meu lar. Deixo-lhe entrar com toda certeza de que
entrarás e me devorará com o olhar, só com ele. Não me peça explicações. Não me force
a palavra.

É necessário cuidar dos documentos
e assim voltar pro corre institucional
digo, cuidar da cabeça
você está no caminho certo, dizem

fazer a letra da música sem meio
e sair do rateio dos shows em paz
se todos somos uma pequena música
compreende-se então a junção do secreto
do sigilo que há em cada um
o subjetivo dá o movimento

É preciso orar e orar
Latinitas e Bilac
Narrar e versar
Deixamos pra depois

É hora de voltar
Pro berço das identidades
Tentei escrever minha mente
A letra não mente


                                        Beatriz Ramos Firmino
                                                Julho de 2023

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