Carta a Fernando Pessoa, de Beatriz Firmino

by - agosto 07, 2023

 

Imagem enviada por Beatriz Firmino

Caro, Pessoa.
Desde que te ouço na grave voz de Maria, preenche-me o coração, os sentidos. Me acessas sem nem mesmo te conhecer. Tuas sombras são assombrações, penetram meu ínfimo, sinto teu afago. Antes me perguntava de quem poderiam ser os versos soltos em meio às melodias cantadas. Muitas vezes quase entregue à minha alma, de corpo adormecido, ouvi tua voz disfarçada da feminina, escondido em tua própria névoa me diz; Mar sou; baixo marulho ao alto rujo.
Nesses momentos de sono, eu era tua dona, passeava pela forma onírica do teu verso. Colava minha aura à tua, me perguntava quem eu era, viajava entre melodias, palmas, instrumentais cortantes.
Muito depois é que você veio ter cara pra mim, ainda confusa te olho como um completo geminiano, tem muitas faces. Teu sol que tanto chora. Um que maestra sobre todos, é o pastor dos rebanhos, celebra a vida assim como é. Ainda um outro que se alinha com a virtude da cultura e do espírito.
Não ouso discutir os céus de cada um, administras tão bem isso, sabe muito bem quem é, parece perdido mas sei que mente.
Me atrevo a conversar de forma íntima sem que nem me conheças, tudo isso porque te acho intrometido, só aparecem versos que cabem à mim, parece que sempre conversou comigo, sinto que me conhece. De tanto fugir de mim, ao final de tudo, de tudo ver e ouvir, volto pra mim, me reencontro, me abraço e durmo. Sonho com teus versos, levo-os para minha vida.

Com carinho,
Beatriz Firmino

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