Análise de 'As pessoas sensíveis', de Sophia de Mello Breyner Andresen
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AS PESSOAS SENSÍVEIS
Sophia de Mello Breyner Andresen (1962)
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
Porque cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão"
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem
Após a leitura do poema, fica evidente uma clara denúncia realizada por Sophia. Expressa a imensa exploração sobre a população desfavorecida economicamente. O texto insinua uma ironia ao denominar esses parasitas sociais como "pessoas sensíveis" que, na verdade, só enchem mais os seus bolsos através de boicotes aos trabalhadores. Nesse contexto, poderíamos citar a mais valia, por exemplo, um conceito criado por Karl Marx que são as horas que o operário cumpre de trabalho, mas não é remunerado. Tal exploração é cristalizada em todo o poema. São sensibilidades selecionadas: não matam, mas comem.
Ao longo do poema é discutida a questão do abuso, da falta de dignidade sofrida pelos mais pobres como da carência de vestuário. Podemos traçar um paralelo com o filme "Parasita", vencedor do Oscar de melhor filme, em que há uma cena em que o milionário retratado se incomoda com o cheiro das roupas de seu motorista, semelhante ao incômodo que o patrão sente com o cheiro da roupa de seu trabalhador como no poema em questão. Sophia contestava o sistema salazarista de várias formas. Invertendo os provérbios bíblicos "Ganharás o pão com o suor do teu rosto"/Assim nos foi imposto/ E não: "Com o suor dos outros ganharás o pão".
E essa parte se conecta muito bem com a última estrofe do texto, onde, ainda uma vez, citará a afirmação feita por Jesus Cristo "perdoai-lhes, Senhor porque não sabem o que fazem". Sophia altera o sentido das palavras reforçando que as tais "pessoas sensíveis" irão ser julgadas por algo que fizeram conscientemente. Ironicamente, porque sabem, devem ser perdoadas.
Ao longo do poema é discutida a questão do abuso, da falta de dignidade sofrida pelos mais pobres como da carência de vestuário. Podemos traçar um paralelo com o filme "Parasita", vencedor do Oscar de melhor filme, em que há uma cena em que o milionário retratado se incomoda com o cheiro das roupas de seu motorista, semelhante ao incômodo que o patrão sente com o cheiro da roupa de seu trabalhador como no poema em questão. Sophia contestava o sistema salazarista de várias formas. Invertendo os provérbios bíblicos "Ganharás o pão com o suor do teu rosto"/Assim nos foi imposto/ E não: "Com o suor dos outros ganharás o pão".
E essa parte se conecta muito bem com a última estrofe do texto, onde, ainda uma vez, citará a afirmação feita por Jesus Cristo "perdoai-lhes, Senhor porque não sabem o que fazem". Sophia altera o sentido das palavras reforçando que as tais "pessoas sensíveis" irão ser julgadas por algo que fizeram conscientemente. Ironicamente, porque sabem, devem ser perdoadas.
Eduarda Rocha
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