Análise de 'A paz sem vencedor e sem vencidos', de Sophia de Mello Breyner Andresen

by - fevereiro 24, 2021

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A PAZ SEM VENCEDOR E SEM VENCIDOS, por Sophia de Mello Breyner Andresen

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ter melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos



    Para iniciar a análise, observa-se um convite ao exercício da fraternidade, “A paz sem vencedor e sem vencidos”. Nota-se aqui que este título será repetido quatro vezes na estrutura do poema e intercalado com as três estrofes. Assim, pode-se deduzir que Sophia de Mello Breyner Andresen usou o recurso do refrão no texto, como uma forma de coro dentro do poema. Ao analisar as estrofes, chama atenção a repetição da sentença “Dai-nos a paz” aludindo à oração “Cordeiro de Deus”, proferida dentro da missa católica. A referência ao simbolismo cristão encontra-se como forma de denúncia ao Salazarismo, algo frequente na poesia de Sophia. O poema cria uma nova oração em que pede a paz dentro de um período sombrio - em que não haja vencedores e vencidos. Também é preciso notar que a palavra paz se repete no texto, como um elemento anafórico, porque é da paz que se vê brotar a verdade, a justiça, a liberdade, tão clamadas no poema. A partir da busca desses elementos citados pela autora, encontra-se a finalidade - a repetição da palavra “para” como condição do encontro de uma vida melhor, em que se possa entender o mandamento (a missão) de cada pessoa no reino (a terra). Em tempos de intolerância, o poema de Sophia nos chega como um convite à paz. O encontro, a comunhão de sentimentos que libertam as pessoas da agonia e do sofrimento, um reino marcado pela igualdade.


                                       Felipe Mattos do Carmo

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