Análise de 'Poema para habitar', de Albano Martins

by - fevereiro 05, 2021

 

Imagem por: Julia Pastore

Poema para habitar (Albano Martins)

A casa desabitada que nós somos
pede que a venham habitar,
que lhe abram as portas e as janelas
e deixem passear o vento pelos
corredores.

Que lhe limpem os vidros da alma
e ponham a flutuar as cortinas do sangue
– até que uma aurora simples nos visite
com o seu corpo de sol desgrenhado e quente.

Até que uma flor de incêndio rompa
o solo das lágrimas carbonizadas e férteis.
Até que as palavras de pedra que arrancamos da língua
sejam aproveitadas para apedrejarmos
a morte.

    
    No título, o verbo habitar é apresentado como um desejo, um objetivo. No primeiro e segundo versos, o poeta nos identifica como casas habitáveis e carentes de habitantes. Sedentos de que nos habitem, nos cuidem, nos aqueçam e nos tragam (trazer/tragar) a vida.
    Uma flor, como a de Drummond que rompe o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio brota como fogo e rompe o solo de lágrimas. Habitar, existir, com palavras de pedra, apedrejar a morte do silêncio.

                                                
                                                Julia Pastore

Você pode gostar também

2 comentários