Análise de 'Poema para habitar', de Albano Martins
Imagem por: Julia Pastore |
Poema para habitar (Albano Martins)
A casa desabitada que nós somos
pede que a venham habitar,
que lhe abram as portas e as janelas
e deixem passear o vento pelos
corredores.
Que lhe limpem os vidros da alma
e ponham a flutuar as cortinas do sangue
– até que uma aurora simples nos visite
com o seu corpo de sol desgrenhado e quente.
Até que uma flor de incêndio rompa
o solo das lágrimas carbonizadas e férteis.
Até que as palavras de pedra que arrancamos da língua
sejam aproveitadas para apedrejarmos
a morte.
No título, o verbo habitar é apresentado como um desejo, um objetivo. No primeiro e segundo versos, o poeta nos identifica como casas habitáveis e carentes de habitantes. Sedentos de que nos habitem, nos cuidem, nos aqueçam e nos tragam (trazer/tragar) a vida.
Uma flor, como a de Drummond que rompe o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio brota como fogo e rompe o solo de lágrimas. Habitar, existir, com palavras de pedra, apedrejar a morte do silêncio.
Uma flor, como a de Drummond que rompe o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio brota como fogo e rompe o solo de lágrimas. Habitar, existir, com palavras de pedra, apedrejar a morte do silêncio.
Julia Pastore
2 comentários
Usar as palavras para apedrejar a morte.
ResponderExcluirÉ isso!
Que sejamos as flores que incendeiam de rompem! Ótima análise!
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