Análise de 'O amor é uma companhia', de Alberto Caeiro
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O amor é uma companhia
Alberto Caeiro
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na
ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara
dela no meio.
“O amor é uma companhia” é o verso que nomeia o poema de
Caeiro que integra “O Pastor Amoroso”. Segundo Caeiro, o amor é sentimento
infinito, que não se consegue definir. Ele traduz no poema a sensação de que o
amor encontra-se em todos os lugares, durante todo o tempo. O amor invade todos
os espaços. Mas se é tanto, como dizer, como sentir, como respirar sem ao menos
se ter um resquício do que é não amar? O amor se faz presente, mesmo quando a
amada está ausente. Mesmo distante está presente. Diante da amada, não sabe o
que dizer, silencia. A ausência é, em todos os momentos, fonte de beleza e de luz
- e a luz é a presença onipresente, constante, natural - como o girassol,
exposto na essência do amor: asperamente atribuído à cara “dela”, como diz o
poeta.
Gabriella Cristina
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