Análise de 'O amor é uma companhia', de Alberto Caeiro

by - abril 07, 2021

 

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O amor é uma companhia
Alberto Caeiro

O amor é uma companhia. 
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.



    “O amor é uma companhia” é o verso que nomeia o poema de Caeiro que integra “O Pastor Amoroso”. Segundo Caeiro, o amor é sentimento infinito, que não se consegue definir. Ele traduz no poema a sensação de que o amor encontra-se em todos os lugares, durante todo o tempo. O amor invade todos os espaços. Mas se é tanto, como dizer, como sentir, como respirar sem ao menos se ter um resquício do que é não amar? O amor se faz presente, mesmo quando a amada está ausente. Mesmo distante está presente. Diante da amada, não sabe o que dizer, silencia. A ausência é, em todos os momentos, fonte de beleza e de luz - e a luz é a presença onipresente, constante, natural - como o girassol, exposto na essência do amor: asperamente atribuído à cara “dela”, como diz o poeta.

                                           
                                           Gabriella Cristina


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