POESIA: 'Despeço-me', de Felipe Mattos do Carmo
Imagem por Felipe Mattos do Carmo |
Despeço-me
Despeço-me por um instante
daquilo que eu tanto almejei.
Quem diria que um dia atravessaria
mares, terras e o céu para estar aqui.
daquilo que eu tanto almejei.
Quem diria que um dia atravessaria
mares, terras e o céu para estar aqui.
Por um instante, despeço-me
do dia que encontrei com a chuva
da manhã, ao andar em paralelepípedos
trêmulos e um rio que cercou meu coração
do dia que encontrei com a chuva
da manhã, ao andar em paralelepípedos
trêmulos e um rio que cercou meu coração
Despeço-me por um momento
das escadarias e dos bancos onde troquei
as prosas mais bonitas e os sorrisos
que me bordaram.
das escadarias e dos bancos onde troquei
as prosas mais bonitas e os sorrisos
que me bordaram.
Por um momento, eu despeço-me
das vezes em que precisei escrever
várias páginas cobertas de amor
e delas saíram as mais lindas poesias.
das vezes em que precisei escrever
várias páginas cobertas de amor
e delas saíram as mais lindas poesias.
Despeço-me por hora
daquela vez em fugimos de casa
e no trapiche da beira do rio
e nas árvores da praça, prometemos o melhor dia.
daquela vez em fugimos de casa
e no trapiche da beira do rio
e nas árvores da praça, prometemos o melhor dia.
Por hora, eu despeço-me
dos amores que eu vivi, enquanto
Sofia aprendia a amar, Mariana
sofria por ser o amor.
dos amores que eu vivi, enquanto
Sofia aprendia a amar, Mariana
sofria por ser o amor.
Despeço-me brevemente,
do dia em que me encontrei na praia
e derramei um copo d’água sobre meus pés.
Nas areias, o sangue como pegadas.
do dia em que me encontrei na praia
e derramei um copo d’água sobre meus pés.
Nas areias, o sangue como pegadas.
Brevemente, eu despeço-me
do amanhã de domingo, da menor das ladeiras
o meu reencontro com o mar
e os morros que aqui cercam.
do amanhã de domingo, da menor das ladeiras
o meu reencontro com o mar
e os morros que aqui cercam.
Despeço-me até mais ver
das chamas que viraram ruínas,
o meu porto-seguro em cinzas
que havia de ter prometido o amor.
das chamas que viraram ruínas,
o meu porto-seguro em cinzas
que havia de ter prometido o amor.
Até mais ver, eu despeço-me
dos andanças que fizemos no sol da grande
e velha cidade e da noite
em que fugíamos em busca do mundo.
dos andanças que fizemos no sol da grande
e velha cidade e da noite
em que fugíamos em busca do mundo.
Despeço-me por esquecer
do meu último suspiro de ar,
quando os ventos haviam sumido
e o meu corpo a padecer só.
do meu último suspiro de ar,
quando os ventos haviam sumido
e o meu corpo a padecer só.
Por esquecer, eu despeço-me
da vez em que me sentei sozinho
em uma mesa e pensei
que não havia mais nada a encontrar.
da vez em que me sentei sozinho
em uma mesa e pensei
que não havia mais nada a encontrar.
Despeço-me por hoje
das longas conversas que eu tive,
trancadas as setes chaves
e prometidas ao túmulo do esquecimento.
das longas conversas que eu tive,
trancadas as setes chaves
e prometidas ao túmulo do esquecimento.
Por hoje, eu despeço-me
do amor de um quarto e casa, do meu falar
das risadas, dos encontros e desencontros
tudo parece ter sido tão ontem.
do amor de um quarto e casa, do meu falar
das risadas, dos encontros e desencontros
tudo parece ter sido tão ontem.
Despeço-me por agora
de uma história tão completa,
que me fez criminoso por arriscar demais,
que me fez herói por amar demais.
de uma história tão completa,
que me fez criminoso por arriscar demais,
que me fez herói por amar demais.
Por agora, eu despeço-me
de ti que estás a ler este texto e
dizer que felizmente tudo ocorreu
como deveria ser, a liberdade.
de ti que estás a ler este texto e
dizer que felizmente tudo ocorreu
como deveria ser, a liberdade.
Despeço, eu despeço-me,
mas não é um adeus.
É um até logo, até breve, até mais
até daqui a pouco.
mas não é um adeus.
É um até logo, até breve, até mais
até daqui a pouco.
Eu despeço-me, despeço
a pedir aos ventos que me carreguem
ao aconchego de quem viveu, todas as linhas
versos e prosas deste poema.
a pedir aos ventos que me carreguem
ao aconchego de quem viveu, todas as linhas
versos e prosas deste poema.
Felipe Mattos do Carmo
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