POESIA: 'Carta à Minerva', de Ana Carolina Puertas

by - junho 18, 2021

 

Imagem por Ana Carolina Puertas

Carta à Minerva

Minerva, 


Que ano! Que saudade!

Espero poder vê-la de perto mais uma vez

E o mais breve possível. 

Quem diria que aquele dia,

Que parecia tão normal,

Seria o  último dia de uma aula

Como até então eu conhecia?


Se soubesse que levaria tanto tempo,

Talvez, teria aproveitado mais.

Ainda lembro da brisa,

Do calor do sol naquela manhã.

Mais um início de período,

Mais um dia de expectativas,

De primeiros dias,

De avaliar, de se questionar,

Se ficaria com os professores que tinha escolhido

Ou se precisaria mudar. 


Que saudades dos encontros pelos corredores,
Às vezes, tão breves
Que só dava para trocar olhares.
Que saudade do cheiro do café,
Ou da umidade na sala, em um dia chuvoso.
Claro, nem tudo eram flores,
Tive muitos dias espinhosos por lá.
Já chorei, já me preocupei
Se aguentaria até o fim do semestre
Ou se acabaria surtando
E jogando tudo pro ar.
Tive períodos bons e ruins,
Mas nunca um me fez tantas coisas novas enfrentar.

Quantas vezes, pelos teus corredores,

Tudo o que se via era caos?

Tantos alunos e professores,

Todos correndo para cumprirem seus horários,

Correndo não só fisicamente,

Mas também mentalmente,

Com o estresse do dia a dia.

Como eu queria te ver de novo,

Sentir o cheiro dos teus bosques,

Sentir o cheiro dos livros da tua biblioteca,

Me reunir no centro acadêmico,

Com tanta liberdade como no primeiro dia.


Quantas vezes por ti andei

E me questionei se estava no lugar certo?

Porque a saudade em mim existe,

Mas também há memórias dolorosas,

Como em toda a vida.

Por conta de uns e outros, já passei poucas e boas,

Só, pelas tuas salas.

Mas não posso por eles te julgar,

Porque pessoas babacas tem em todo lugar. 


Olhando agora,

Através da memória,

Parece tão distante.

Quase como um sonho

Ou outra vida.

Que saudades da rotina,

Com incertezas tão pequeninas!


Que saudade de saber

Como meu dia deveria,

Mais ou menos, ser.

Hoje eu não sei.

Os dias são longos,

E eu tenho que, constantemente, me reinventar

Para suportá-los.

Quem acha que o ensino à distância significa tranquilidade

É porque não tem que por ele passar. 

 

A gente se reinventou

Do jeito que deu,

E ainda vai continuar assim

Por um tempo,

Mas eu não esperava

Sentir essa falta de você que me deu.

.

Ainda que por vezes eu tenha tido aulas tranquilas,

Essa pandemia mudou tudo.

Agora tudo é digital,

Mal existe a fala.

Passamos por aulas inteiras em silêncio,

Quase em forma de luto.

Não por falta de educação,

Mas porque, para muitos, o  descanso não veio.

Para muitos, o conforto não existe.

Um lugar tranquilo e uma rotina coesa de estudos

É tão raro quanto o sinal da internet.


Mas não temos muitas opções no momento.

O que nos resta

É nos apegar no que ainda temos de você

E se reclamamos,

É porque sabemos,

A falta que faz você.


Sentimos falta até das coisas mais simples,

Do olhar nos olhos, das reações e mínimas expressões

Durante os seminários, aulas e afins.

Capaz de no dia de nos reencontrarmos

Sequer conseguirmos falar.

A ficha não vai cair tão cedo.

Não importa o tamanho do anseio desse dia chegar.

E ele vai. E nós vamos nos banhar

Em lágrimas de alegria e esperança.

Vamos fazer festa e bagunça.

Vamos sorrir, abraçar, todos vacinados

E esse vírus, finalmente, derrotado.


Vai demorar,

Vai ser difícil,

E por enquanto nós seguimos daqui.

Mantendo o que temos,

Como podemos

E, principalmente,

Essa fé de um dia voltar a encher de gente por ti.


Nada será, perfeitamente, como antes.

Teremos que passar por um longo processo,

Ainda teremos muitos cuidados,

Mas em breve nos veremos e venceremos.

Porque o tempo passa, mas você resiste. 

Então, isso é apenas um bilhete

Para te dizer que sinto,

Que sentimos,

Falta de você,

Não é um adeus,

É um até breve.




                                         Ana Carolina Puertas

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