POESIA: 'Oceano: coragem de ser imperfeita', de Maria Eduarda Rocha Ferreira de Souza

by - setembro 08, 2021

 

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Oceano: coragem de ser imperfeita .  


Chorei sem saber o por quê. Chorei durante 5 minutos sem parar, nem mesmo o soluço e os pigarros paravam o meu chorar. Eu era oceano. Um oceano tão profundo quanto a fossa das Marianas. Um oceano tão escuro que mal dava para enxergar o que estaria causando tamanha reviravolta nessas águas. Ainda não achei a resposta e também acho que tão cedo não acharei. Mais uma coisa faz sentido no meio desse caos, o fato de que o oceano é imperfeito e é justamente isso que o torna vivo. Há quanto tempo eu não me permitia chorar? O que me faz sentir viva? Ou melhor, eu ainda estou viva?  No meio desse caos que é a vida parece que finalmente em um lapso, eu compreendi o que é estar viva. O que é ser algo. Eu sou uma pessoa antes de ser uma mulher. 


 Não estou “questionando” minha sexualidade, mas estou pela primeira vez em toda a minha vida questionando o que é para mim ser mulher. Até então eu achava que tinha que ser feminina e perfeita. Como se nunca pudesse sair dessa bolha de laços rosas e vestidos plissados. Boas maneiras a mesa e educação impecável na escola. E pela primeira vez eu fui rebelde. Fui rebelde por chorar sem parar por um motivo que eu não sei. Na verdade, eu sei. Só não sabia que ele era tão grande dentro de mim, que eu deixei ele ter um valor tão grande dentro de mim a ponto dele ter um lugar só dele dentro de mim. Pela primeira vez em 19 anos de existência eu me senti mais viva do que nunca. E olhe, eu já experimentei a sensação da morte e afirmo: nunca me senti tão viva e lúcida. Como o agora. Porque antes de ser uma categoria, eu sou uma pessoa. 


As lágrimas são de liberdade, devo explicar. Um choro tão forte, alto e expressivo. Um choro que diz muito mais do que 1000 palavras conseguiriam sequer tentar explicar. Um choro que não expressa somente a minha angústia, mais acredito que de outras pessoas também. Finalmente estou saindo da caixinha, seja ela do Skinner ou de Pandora, mais estou buscando à luz e sinto que cada vez mais estou perto de chegar lá. Seja pelas ondas desse meu oceano ou seja pela minha luta para viver. E digo viver no sentido prático do verbo. Não basta apenas achar que está vivo, temos que viver para nos sentirmos vivos. E por isso que choro, para mostrar para mim mesma que esse choro mostra que estou viva. Mais viva do que nunca imaginei que estaria. E mais imperfeita do que qualquer modelo já propôs. Viva a liberdade de viver!



                            

                        Maria Eduarda Rocha Ferreira de Souza

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