POEMA: 'A História da Digníssima Doutora Ana Katarina e do Povo Trabalhador Brasileiro', de Gustavo Martins

by - agosto 01, 2022

 

Imagem por Gustavo Martins

A História da Digníssima Doutora Ana Katarina e do Povo Trabalhador Brasileiro


Parte 1


Ahhhhhhhhhh!

Doutora Katarina,

no ano em que se formou,

procurou mais de seis meses

quem pagasse seu valor.

Como nada lhe pagava,

também nada lhe cobrou,

trabalhou mais de três meses

a serviço de doutor.


No ano dois mil e vinte,

quando a peste se instaurou,

juntou o que lhe restava

e pro Rio se mandou.

Era muito pouca a paga,

mas a paga lhe pagou,

pois era recém-formada

e o convite impressionou.


Passou-se mais de um ano

trabalhando noite e dia.

Conversou com o doutor

do pouco que recebia.

O doutor não se prestava

a pagar o que devia,

lhe chamou de estagiária

pelo pouco que sabia.


Katarina, mulher forte,

nesse dia se enfezou.

Como uma estagiária

faz bem mais que o doutor?!

Quando eu chego

ele tá em casa,

Ele sai, tô trabalhando.

Sou dentista já formada

eu não tô estagiando.


Depois dessa injustiça,

sua mãe determinou.

Ligou pruma velha amiga

que de pronto convidou

a doutora Katarina

pruma sala que vagou,

ia receber salário.

e por isso retornou.


Chegando nesse trabalho

que tanto lhe esperançava,

no fundo da amiga velha

se escondia uma bruaca.

Explorava o seu trabalho 

e também não lhe pagava.

O custo se dividia,

do lucro se apropriava.


Parte 2

Revoltada com a sorte

que nunca se lhe mostrava,

preferiu perder o emprego

a ficar sendo humilhada.

E ficou desesperada,

sem estudo e sem trabalho.

Não tinha sequer justiça,

nessa vida enviesada.


Buscando trabalho justo

conheceu uma dentista:

dona Érica Meireles,

que a bondade seja vista!

Dividiu seu consultório

sem cobrar a estadia,

enquanto juntava gente

pra pagar a cortesia.


Nesse tempo de trabalho,

que eu vi com os próprios olhos,

a gente se amontoava

no pequeno consultório.

E aquilo já tava pouco

pelo tanto que fazia.

Queria ter seu negócio

pelo tanto que sabia.


Como que telepatia

certo dia lhe ligou

um amigo da sua tia

que também era doutor.

Sabia das desventuras

de jovem trabalhador.

Queria ter uma clínica

com gente de valor.


Nessa enorme empreitada

puseram até arquiteta,

a equipe dos pedreiros

começou o quebra-quebra.

Sua saga continua,

oh, doutora Katarina,

que tão boa seja a sina

como grande é a refrega!


Dessa forma que procede

a vida de tanta gente,

num país que quem trabalha

não ganha como o gerente.

Eu peço pela justiça,

pelo que não é presente.

Se a gente tudo trabalha

à gente tudo pertence!



                                              Gustavo Martins

Você pode gostar também

0 comentários