POEMA: 'A História da Digníssima Doutora Ana Katarina e do Povo Trabalhador Brasileiro', de Gustavo Martins
Imagem por Gustavo Martins |
A História da Digníssima Doutora Ana Katarina e do Povo Trabalhador Brasileiro
Parte 1
Ahhhhhhhhhh!
Doutora Katarina,
no ano em que se formou,
procurou mais de seis meses
quem pagasse seu valor.
Como nada lhe pagava,
também nada lhe cobrou,
trabalhou mais de três meses
a serviço de doutor.
No ano dois mil e vinte,
quando a peste se instaurou,
juntou o que lhe restava
e pro Rio se mandou.
Era muito pouca a paga,
mas a paga lhe pagou,
pois era recém-formada
e o convite impressionou.
Passou-se mais de um ano
trabalhando noite e dia.
Conversou com o doutor
do pouco que recebia.
O doutor não se prestava
a pagar o que devia,
lhe chamou de estagiária
pelo pouco que sabia.
Katarina, mulher forte,
nesse dia se enfezou.
Como uma estagiária
faz bem mais que o doutor?!
Quando eu chego
ele tá em casa,
Ele sai, tô trabalhando.
Sou dentista já formada
eu não tô estagiando.
Depois dessa injustiça,
sua mãe determinou.
Ligou pruma velha amiga
que de pronto convidou
a doutora Katarina
pruma sala que vagou,
ia receber salário.
e por isso retornou.
Chegando nesse trabalho
que tanto lhe esperançava,
no fundo da amiga velha
se escondia uma bruaca.
Explorava o seu trabalho
e também não lhe pagava.
O custo se dividia,
do lucro se apropriava.
Revoltada com a sorte
que nunca se lhe mostrava,
preferiu perder o emprego
a ficar sendo humilhada.
E ficou desesperada,
sem estudo e sem trabalho.
Não tinha sequer justiça,
nessa vida enviesada.
Buscando trabalho justo
conheceu uma dentista:
dona Érica Meireles,
que a bondade seja vista!
Dividiu seu consultório
sem cobrar a estadia,
enquanto juntava gente
pra pagar a cortesia.
Nesse tempo de trabalho,
que eu vi com os próprios olhos,
a gente se amontoava
no pequeno consultório.
E aquilo já tava pouco
pelo tanto que fazia.
Queria ter seu negócio
pelo tanto que sabia.
Como que telepatia
certo dia lhe ligou
um amigo da sua tia
que também era doutor.
Sabia das desventuras
de jovem trabalhador.
Queria ter uma clínica
com gente de valor.
Nessa enorme empreitada
puseram até arquiteta,
a equipe dos pedreiros
começou o quebra-quebra.
Sua saga continua,
oh, doutora Katarina,
que tão boa seja a sina
como grande é a refrega!
Dessa forma que procede
a vida de tanta gente,
num país que quem trabalha
não ganha como o gerente.
Eu peço pela justiça,
pelo que não é presente.
Se a gente tudo trabalha
à gente tudo pertence!
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