PROSA POÉTICA: 'ad finitum', de Maria Beatriz Hermano
Imagem por Maria Beatriz Hermano |
tudo era muito macio tipo tecido e linho branco. limpo. e uma luz entrava dentro dos olhos refrescando as arestas... transpassando os fios, despertando a água, crestando as árvores, refratando as pupilas.
conseguia alcançar esses níveis precisamente quando fechava os olhos muito forte espremendo as pálpebras, e o pó branco que saia delas era de uma textura parecida com o pó que sai das asas das borboletas.
os sonhos estavam sempre do lado de dentro: borbulhando tenuemente como pequenos náufragos, numa espécie de êxtase; e muito teimosos, meio egoístas, exigentes como bebês recém-nascidos: vontade pura, instinto puro, e culpa nenhuma.
é nessa tragédia que nos movemos, pela areia movediça que esmorece os sonhos. por estarmos nos recompondo a cada segundo e a cada milésimo de segundo, daí que sai a faísca vacilante. da borda do precipício. pelo mundo ser infinito e não podermos tocá-lo. das bordas das caixas torácicas tudo se escapa: córregos, metáforas, cacofonias e ressonâncias.
e os sonhos
estão sempre do lado de dentro. meio ocos e soturnos
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